"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos."
Esta
Bem-Aventurança obviamente é resposta das outras Bem-Aventuranças, como um efeito
natural daquelas. Já fomos ensinados na Palavra que devemos ser humildes de espírito,
chorar pelos nossos pecados, e ser mansos. Até então, éramos impelidos a olhar
para nós e examinarmos nossa completa penúria espiritual, nosso total desamparo
e impotência, nossa verdadeira bancarrota espiritual. Nesta Bem-Aventurança, no
entanto, somos levados a uma busca pela solução desses problemas, a fim de sermos
libertos do “eu” – o que deve ser um anseio de todo crente. Esta
Bem-Aventurança nos leva a meditarmos na exclusiva graça de Deus, no fato de
ter Ele nos salvado inteiramente por Seu amoroso favor. Para melhor compreendermos,
devemos observar cada parte desta declaração do Senhor Jesus, a começar pelo
vocábulo “justiça”.
A
Bíblia nos diz que bem-aventurados, ou felizes são os que tem fome e sede de
justiça - estes são verdadeiramente felizes. O mundo inteiro busca felicidade. Todos
querem ser felizes! Assim, todo o trabalho, esforço, ação e ambição visam este objetivo.
Entretanto, a grande tragédia da humanidade é nunca encontrar essa tal
felicidade. Por que isso acontece?
O
mundo não é feliz, porque não compreende Mateus 5.6: Felizes, são os que tem
fome e sede de justiça! Não devemos ter fome e sede de felicidade, ou fome e
sede de bênçãos. de coisas materiais.... Essas são as prioridades do mundo. Mas
a Escritura nos diz que a felicidade não é algo a ser buscado, e sim, o
resultado da busca pela justiça. Muitos que estão nas igrejas sofrem com incorreta
priorização. Buscam felicidade e bênção, e para isso, vivem de encontros extraordinários
com Deus, congressos, eventos, pulam de congregação a congregação, buscam manifestações,
almejando uma vida espiritual feliz, sem jamais obter. Por que não tem? A
resposta é simples! Não nos compete ter fome e sede de experiências ou bênçãos.
Se quisermos ser verdadeiramente felizes e abençoados, então precisamos ter fome
e sede de justiça. Não devemos por a felicidade e a bênção acima da nossa real
prioridade. A felicidade e a bênção são coisas que Deus acrescenta àqueles que
buscam sua justiça. É como um paciente doente que busca tratamento para a
doença, tomando remédios para a dor, em vez de tratar o mal que causa a dor.
Ainda que se sinta aliviado, a doença continua lá, para mata-lo. É o mesmo que
tentar ser feliz sem buscar a causa da verdadeira felicidade.
O que é a justiça?
Não
se trata de uma retidão geral ou moralidade; não é uma espécie de justiça social
ou igualdade financeira ou relacional entre os homens. A palavra justiça neste
texto está no acusativo, que denota um pertencimento; neste caso, “a justiça do
Justo”. Este termo fala não de justiça humana, mas de toda justiça e perfeição
do mundo – A justiça, ou a santidade de Deus. Em outros termos, ter fome e sede
de justiça é o desejo de ter a justiça de Deus, de ter libertação do pecado, em
todas as suas formas, de uma vez por todas; é anelar ser livre do pecado, porque
é justamente esse pecado que nos afasta de Deus, que se interpõe entre nós e o
nosso Senhor, deixando turvo o nosso conhecimento d’Ele e nos atrapalhando de estarmos plenamente n’Ele,
agradando-O. Como nos diz a Escritura, as vossas iniquidades fazem separação
entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para
que não vos ouça. (Isaías 59.2). Ainda que salvos e justificados, ainda entristecemos
o Espírito Santo, e isto para nós que nascemos de novo é angustiante,
inadmissível. O pecado nos impede de alcançarmos a perfeição e a plenitude da
presença de Deus, assim, aquele que tem fome e sede de justiça observa a rebelião
que ainda o separa da face de Eterno e anseia retornar àquele relacionamento de
pureza e justiça, que o homem tinha com Deus antes da Queda. O homem justo,
almeja andar com Deus e viver com Ele, então, se a Palavra diz que para vermos
o Senhor precisamos ser santos (Hebreus 12.14), então, santidade é que o desesperadamente
buscaremos! Aquele que já se viu miserável, que chorou por seus pecados e foi
amansado em ver sua incompetência, deseja livrar-se do domínio do pecado, de um
mundo que é controlado por esse pecado (Efésios 2.2) e do poder da carne que
ainda está em nós, como lamenta Paulo em Romanos 7.17-20. Se este poder me faz
sofrer, quero o quanto antes me ver livre d’Ele. É, acima de tudo, ver-se livre
do próprio desejo de pecar, ver-se redimido de todo o desejo pecaminoso, não
somente em seus atos externos, mas também do seu próprio íntimo. Ter fome e
sede de justiça é ver-se livre do próprio “eu”, é um desejo de ser puro para
que nada atrapalhe o maravilhoso relacionamento com o Senhor, onde, infelizmente,
ainda podemos entristecer Seu Espírito. É mais que uma obrigação, é um anelo
desesperado de um coração que conheceu a graça do três vezes Santo.
Ter
fome e sede de justiça é o desejo de ser
positivamente santo. O bem-aventurado deseja ser um exemplo das Bem-Aventuranças
no seu dia a dia; exibir o fruto do Espírito em cada ação; anela ser o homem
descrito no Novo Testamento, o novo em Cristo Jesus, para o qual as coisas do
velho homem se passaram (2 Coríntios 5.17). Ele deseja, sobretudo, conhecer a
Deus e desfrutar de Sua presença, andar na Sua luz, em companhia do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, em bendita pureza e santidade.
É o desejo de parecer com Jesus Cristo, o
homem perfeito (Efésios 4.13). Seu exemplo de
obediência, suas relações, gentileza, compaixão, sensibilidade, reações para
com os adversários. Ter fome e sede de justiça é ter fome de sede de parecer-se
com Jesus.
O que significa ter fome e sede?
Obviamente
não significa que a pessoa sente que pode atingir a justiça com seus próprios esforços.
Primeiro porque esta justiça é perfeita e de acordo com a primeira Bem-Aventurança,
vemos que somos pobres e incapazes. Ter fome e sede significa a tomada de
consciência de nossa tão desesperada necessidade de santidade, ao ponto de
causar dor. Não é um desejo passageiro, temporal, mas constante. A fome é forte
e profunda, que continua enquanto não for satisfeita. É a fome de inanição, a
sede de quem está num deserto. É algo contínuo e que deixa o crente cada vez
mais desesperado. É algo que provoca sofrimento e agonia santos. É como alguém
que deseja um grande cargo, ou como um candidato a um grande prêmio num reality
show, que não descansa e por isso trabalha, pois, sua ambição é a paixão da sua
vida. Também podemos comparar a saudade que se sente por outro, como o desejo
apaixonado de contato de um casal apaixonado, é como o salmista no cap. 42.1-2:
“Como a corça anseia por águas correntes,
a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus
vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?”.
E o que foi prometido às pessoas que tem
essa virtude?
A
resposta a esta pergunta é uma das mais belas, gloriosas e graciosas das
Escrituras. Por que são felizes os que tem fome e sede de justiça? Porque eles serão fartos! Eles receberão aquilo
que desejam!
Aqui
vemos a graça de Deus em nós, pois nunca nos fartaríamos da nossa própria
justiça, das nossas próprias obras ou do nosso merecimento. Seria como beber
num deserto escaldante um copo d’água salgado ou comer carne estragada. Toda a preparação
de Deus em nós é para que sintamos o quanto precisamos d’Ele, e isto é graça.
Ele nos atrai para Si e não nos lançará fora, mas nos receberá em Sua presença
(João 6.37)! Esta é uma promessa absoluta: Se você tem realmente fome e sede de
justiça, então será satisfeito.
Este
divino compromisso se cumpre de maneira presente, contínua e futura.
Primeiramente, porque o faminto e sedento será farto sem atraso, e isto por
causa da dupla imputação: Na cruz, Jesus trocou a nossa justiça pela Sua
perfeita justiça; na imputação dupla, Deus atribuiu aos nossos pecados e nossa culpa
a Cristo, e nos imputou a justiça e inocência de Cristo. Por isso, o Apóstolo
Paulo diz que Cristo ressuscitou para que nos tornássemos justos (Romanos4.25). Assim, quando Deus nos vê do céu, Ele vê em nós a retidão de Cristo e
não o nosso pecado. Ele sempre verá um pecador que já perdoou! Desejamos,
portanto, a justiça, porque temos provado dela constantemente em nossa relação
de amizade com Deus, e por isso, sempre quereremos mais! Em segundo lugar,
somos levados a querer continuamente mais: Quanto mais o Espírito Santo nos
livra do pecado, mais devemos ter fome e sede dessa libertação, a fim de sermos
plenos. Na regeneração, Deus molda em nós uma nova vontade que ditará todo um
novo modo de agir, santo e desejoso por mais santidade (Filipenses 2.13).
Quanto mais andarmos com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, teremos forças para
resistir a satanás, ao mundo e a carne; e quereremos mais disso, como um santo
ciclo vicioso. E por último, temos o cumprimento final, cabal e absoluto, que
se concretizará na eternidade, quando nos prostraremos ante Deus, sem culpa,
defeito, mancha ou ruga, sem falhas... Enfim, perfeitos!
“Depois disso olhei, e diante de mim
estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações,
tribos, povos e línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes
brancas e segurando palmas. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede. Não cairá
sobre eles sol, e nenhum calor abrasador, pois o Cordeiro que está no centro do
trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água viva. E Deus enxugará
dos seus olhos toda lágrima”. (Apocalipse 7.9,16,17).
Por
causa dessa certeza, somos já chamados de perfeitos por Deus, pois temos em
Cristo essa perfeição (Cf. Filipenses3;15; Colossenses 1.28). E isto é maravilhoso! Estamos sendo transformados de
glória em glória, recebendo graça sobre graça (João 1.16). Ao mesmo tempo que
temos fome e sede, estamos sendo satisfeitos, e quanto mais satisfeitos, mais queremos!
Esta ambição é santa; este desejo é glorioso! Nada mais nos satisfaz além da
justiça de Deus e quanto mais temos, mais queremos, até que Sua santidade nos
inunde. Aleluia!
Você
se sente satisfeito? Tem sentido a bênção de Deus neste sentido? Você sente
fome e sede?
Certifique-se
de que não está tendo apenas fome e sede de alguma bênção. Antes, tenha fome e
sede da própria justiça. Anele por ser semelhante a Cristo, e então você terá o
que deseja. Conforme o Salmo 37.4, se nosso deleite for o Senhor, se nosso
prazer e alvo maior for tê-Lo, Ele concederá o desejo do nosso coração – Ele mesmo.
Pratique
uma vida faminta e sedenta, viva esta realidade no seu dia a dia, pois se assim
for, se o que deseja for santidade para ver a Deus, será mais fácil resistir ao
pecado, ter relacionamentos saudáveis na família, trabalho... pois nada poderá
te impedir de ser farto!
Que
o Senhor nos faça cada vez mais anelantes por Sua presença!
Soli Deo Gloria.
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Esboço baseado no livro: Estudos no
Sermão do Monte. Martyn Lloyd Jones, Ed. FIEL. Adquira o livro aqui.
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> Livro: Crucificando a Moralidade. Ed. FIEL (Aqui);
> Meditações no Evangelho de Mateus. Ed. FIEL (Aqui).
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